Como era de se esperar, a reação do investidor ao rombo de R$ 2,5 bilhões do Panamericano levou as ações preferenciais (PN, sem voto) do banco a um tombo de 29,54%. No fechamento, os papéis foram cotados a R$ 4,77, quase 15% menor do que o valor patrimonial, de R$ 5,60.
Na esteira do escândalo contábil sofreram também papéis de bancos médios e construtoras. Em relação às instituições financeiras de menor porte, aponta o analista de uma gestora de fundos, a aversão a risco está ligada ao questionamento da eficácia da fiscalização pelo Banco Central. "O sistema todo foi colocado em xeque", diz.
Ainda segundo ele, a pergunta que se faz é por que o BC demorou tanto para pegar o problema, que também passou batido pelas auditorias da Deloitte e KPMG, essa última contratada pela Caixa para dar o parecer antes da transação com o Panamericano. "O mercado vai repensar esse risco, o que deve provocar uma reavaliação de preços no setor."
Num primeiro momento, o investidor vai pedir mais desconto para correr o risco de investir em uma ação de banco médio. Na contramão, haverá sempre aquele mais cauteloso, que vai migrar para papéis menos arriscados, como os dos grandes bancos. "Isso já ocorreu na época da quebra do Banco Santos, quando sobrou dinheiro para os grandes bancos, barateando seu custo de captação, e faltou para os pequenos", diz.
Aliás, o risco de faltar recursos para os médios também entrou no radar do investidor. O funding deve ficar mais caro para esse tipo de instituição ou até faltar, o que é negativo para as margens, destaca o BTG Pactual, em relatório.
Ontem, houve uma mostra dessa reavaliação de preços. Enquanto as ações de bancos de pequeno e médio portes caíram, as dos grandes subiram. "Isso aponta um movimento de 'flight to quality' (voo para ativos de qualidade)", diz o gestor.
Bradesco PN subiu 1,39%, Itaú Unibanco, 1,16%, e as units do Santander, 1,06%. Entre os destaques negativos, BicBanco PN (-5,36%), Sofisa PN (-4,81%), Paraná Banco PN (-4,44%), Daycoval PN (-2,98%), Indusval PN (-2,92%), Pine PN (-2,60%), Cruzeiro do Sul PN (-1,32%), Banrisul PNB (-0,84%) e ABC Brasil PN (-0,79%). As ordinárias do Banco do Brasil caíram 0,09%.
O próprio BTG destaca, em relatório, que prefere os grandes bancos. Ele diz não acreditar que o setor financeiro daqui sairá dos trilhos. Algumas corretoras, que tinham recomendação de compra para Panamericano, colocaram a avaliação sob revisão - caso da Planner e da Link.
As construtoras caíram sob o temor de que os financiamentos da Caixa para o setor imobiliário tornem-se mais amarrados. O Ibovespa fechou no zero a zero (-0,06%), a 71.638 pontos.
Fonte: Valor Econômico